quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A Solidão de Um Menino - Parte 6


Rossinho e seu tio se apresentam formalmente pela primeira vez. O tio sensibiliza-se com o menino e o alimenta.
O homem que havia se retirado, o tio de Rossinho, chegando até a sepultura de sua mãe, e vendo o menino ali, dormindo na grama molhada ao lado da tumba de sua avó, compadeceu-se dele como nunca. Mesmo sendo um rude lavrador, ainda assim carregava em si uma carga de sentimento, que naquele momento aflorou e mostrou que ali ainda existia sensibilidade, mesmo que um pouco. Pegou, então, no braço esquerdo do menino e o levantou. No momento em que despertou, Rossinho puxou seu braço e se afastou repentinamente. Os dois se olharam por alguns momentos, o homem com semblante mostrando amizade, o menino muito assustado. – Cê ta com fome – perguntou o homem, - não senhor. – respondeu o menino. – Tem certeza, desde que chegamos ontem cê não comeu nada, só ficou por ai calado, tem que comer algo! – Neste momento Rossinho olha para o chão em atitude de submissão e balança a cabeça para cima e para baixo em sinal de que aceitava o convite de seu tio. Neste momento o homem olha para a sepultura, sem lápide ainda, e diz em voz baixa, quase para dentro – é mãe, vamos fazer a sua vontade, mesmo não sabendo ao certo qual era, descanse em paz – volta para o menino e pergunta-lhe – você amava mesmo sua avó? – e Rossinho, olha para o lado, coça o rosto, franze um pouco a testa e responde simplesmente que – agente se dava bem – Seu tio vira novamente e sai andado devagar, faz um sinal para que o menino o siga.
Após alguns passos, Rossinho puxa a roupa de seu tio, como quem pede uma parada. Ele para, pergunta o que foi, e o menino diz com um ar altivo – eu não quero entrar lá de novo, não quero ver aquelas pessoas, se for pra comer, como aqui fora ou nada!! – Sem nem mesmo tentar contrariá-lo, seu tio aceita a exigência. Nem mesmo ele queria ver aquelas pessoas, a atmosfera lá dentro estava muito carregada, o egoísmo, avareza e a ganância formavam uma densa fumaça no ar. Após alguns poucos passos, o homem se volta e pela primeira vez pergunta o nome do menino, ele levanta a cabeça, estufa o peito e diz – Setembrino Rossi, mas pode me chamar de Rossinho, era como vó Isabel me chamava – então, demonstrando interesse por sue bem feitor, o menino pergunta o nome dele, - João Gomes Rossi, mas pode me chamar de Jango, é meu apelido também, sua vó me chamava assim quando tinha a sua idade – dito estas palavras, vira-se em direção a casa.
Entrando na casa, Jango vê que aquela discussão ainda não cessou. Mal entra, já lhe interam do novo assunto. Primeiro fica feliz de perceber que todos chegaram à conclusão de que aquelas terras deveriam pertencer ao garoto. Porém, quando chegaram à parte do tutor, logo percebe que as negociações ainda mantêm o tom ganancioso. Apesar de o assunto ter mudado plasticamente, sua essência era a mesma.
Desconversando, Jango passa diretamente para a cozinha, não justifica a ninguém o que estava indo fazer, poderiam achar que ele levava comida ao garoto com segundas intenções. Chegando a cozinha, revira os velhos e empoeirados armários, depois vai até a pequena dispensa, divida da cozinha por uma cortina com estampas de flores, de cores muito vivas, mesmo desbotadas pelo tempo. Lá, assim como nos armários não encontra nada. Indaga a si mesmo se sua mãe não morrera de fome. Mas não, quando chegaram, às panelas ainda estavam sujas, pouco antes de morrer havia comido sai última refeição. Assim tinha comido tudo que restava, pois não sobrara mais nada de reservas na casa. O que faria para Rossinho comer? Pela porta dos fundos mesmo, saiu da casa. No terreiro cercado atrás da casa existia uma horta e um galinheiro, este último era dividido em duas metades. Numa, algumas codornas e noutra umas poucas galinhas e um galo. Primeiramente pensou e matar uma daquelas galinhas e fazer delas um cozido. Quando entrou no galinheiro para escolher a galinácea, viu alguns ovos. Concluiu então que poderia apenas cozinhar os ovos. Seria mais rápido, e faria menos alvoroço. Foi o que fez.Dirigindo-se até onde Rossinho se encontrava, com um prato de alumínio numa mão e na outra um copo médio. O menino estava sentado um pouco adentro do bosque, a sombra de um pinheiro. Chegando perto dele, Jango lhe entrega o prato com quatro ovos cozidos e o copo com água. Os dois não trocam uma palavra se quer. Rossinho engole rapidamente os ovos cozidos sem tempero e toma num gole só toda a água do copo. Estava com muita fome. Jango olha feliz, a cada momento sente mais simpatia pelo menino, vê nele traços marcantes de seu irmão. Os observa um a um, isso provoca um forte sentimento de saudade daquele jovem rapaz que fora tão cedo embora.
Continua...
N.A.: Faltam apenas dois capítulos para o desfecho da história.

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