quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Red Nose

final round.

Mudar o ar. Ou mudar de ar. Não sei bem como seria descrever isso, nem sei se conseguirei me fazer entender. Mas o fato é que não só a paisagem, mas o ar muda. Não aquela historinha de “mudança de atmosfera” sabe. Não aquela coisa de que “poxa, o ar daqui é diferente do ar da Bolívia, altitude e tudo mais. Não, não tem nada a ver com isso. Tem haver simplesmente com a maneira como você sente o ar entrando. Eu nunca senti tanta saudade da neblina até atravessar o ultimo pedágio na estrada. Serio, foi uma coisa interessante, eu abri as janelas simplesmente para sentir o ar úmido entrando. Foi estranho. O ar realmente muda. Isso é perceptível por todos os sentidos. O gosto é um dos mais misteriosos. Se vê por ai num livro, numa poesia, numa reportagem ou até mesmo em alguém falando num discurso aberto, uma descrição do gosto do ar em determinada situação, em determinada cena. As pessoas conseguem dizer que o ar era agridoce, salgado, insosso ou sei lá, qualquer outra sensação que se pode associar a língua, ou ao que a língua absorve para o sistema nervoso. Eu nunca tinha parado para pensar nisso. Geralmente passava por cima, mas no fundo o ar tem um gosto, e ele muda mesmo. Mas neste caso, eu estava descrevendo uma mudança de ar que é mais generalizada. Falando da mudança de ar junto com o seu deslocamento geográfico. Daí já dava pra fazer outras associações, mas acho que só o lance do “gosto do ar” e da “mudançazinha de ar, rápida (um período curto demais pra dar uma opinião mais completa)”, já me contenta por hoje. (90° post do blog).


* * * * *
- Ar sujo? Só depois da faixa amarela amigo. Obrigado!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cheiro abafado





Na sala clara, cheia de janelas. Deletar.


Me sinto como se estivesse lá ainda. Não é bem como me sentia quando estava lá efetivamente. O ar ainda tem nuances de quando estava lá. Aquele cheiro abafado, com a fumaça pairando. A porta da varanda ainda aberta, com o barulho infernal entrando o tempo todo. Os telefones e a televisão berrando. Um berro com o cheiro do café preto, forte. Do piche escuro, das duas portas ladeadas dos sanitários, próximo ao arquivo morto.

A calmaria que vejo agora me impede de realmente sentir o que sentia, mas eu continuava pensando como seria ter ficado lá. Como seria se eu tenta-se mais uma vez, como tantas, em vão. Esse é o gosto nostálgico da mudança. Que vai impregnar a boca por alguns dias, e mesmo quando ele não estiver completo, rançoso, mesmo quando ele parar de incomodar, algum resquício ainda restará. Ele vai acompanhar os dias que se desenharão naquela rua escura, por detrás da avenida principal, onde naquela sala totalmente clara, cheia de janelas, o gosto do ar pesado não existirá mais. Melhor assim. Isso sim, isso sim é verdade.

Maldita memória, maldita memória que me faz ter vontade de sentir tudo aquilo de novo. O peso do tempo, que eu não acredito passar tão rápido quanto dizem, acaba vindo de um vez só. Tanta coisa em tão pouco tempo. Já não estou mais lá, talvez eu volte, mas só pra ver como está, como as coisas continuaram a se mover sem que eu precise mais teclar aquelas teclas pretas e ajudar a desenhar diariamente o destino daquela sala densa e barulhenta. Deletar. Até logo, vou tentar viver sem por enquanto, vamos ver como é isso.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desaparecido


City of Tijuana

chamam-me desaparecido
que quando chega já foi indo
voando eu venho, voando vou
depressa, depressa a um rumo perdido.
quando me procuram nunca estou
quando me encontram eu não sou
ele que está na frente porque já
fui correndo mais pra lá

me dizem o desaparecido
fantasma que nunca está
me dizem o desagradecido
mas essa não é a verdade
eu levo no corpo uma dor
que não me deixa respirar
levo no corpo um castigo
que sempre me pôe pra caminhar.
eu levo no corpo um motor
que nunca deixa de parar
levo na alma um caminho
destinado a nunca chegar.
me chamam o desaparecido
que quando chega já se foi indo

voando venho, voando vou
depressa, depressa a rumo perdido.

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'Perdido en el siglo... siglo XX... rumbo al XXI' - Manu Chao

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ensaiando para as três das onze

esperando tudo acabar pra ganhar meu dinheiro miado. metade é minha por direito.



a chegada do gordo

a luz que vem por debaixo do portão de ferro não chega. a que sai do tubo da tv espera acesa e solitária no outro cômodo. o som seco e agudo reverbera no corredor, foge do isolamento daquela sala de piso azulejado e paredes encarpetadas. lá dentro duas lâmpadas, uma delas queimada, se dependuram em sua forma de morcego no forro de gesso. tudo parece tão solitário e frio. nada começa antes que a última das quatro luzes pisque por debaixo do portão cinza, com a tinta descamando com a ação do tempo. a luz não virá com o clicar do interruptor. ela é bem mais espontânea do que o necessário. vêm e vai quando quer. paga um quarto do montante que abre a porta do quarto rígido, onde o som é produzido. lá dentro, tudo é incompleto antes de sua chegada. o agudo fica sem o grave. o irmão fica sem sua metade gêmea gorda. ela ainda não veio por debaixo do portão de ferro.

‘case’ do canguru

elas são duas tímidas e caladas. olham a batida ser feita e o toque das cordas acontecer. se perdem em duas horas do mais ensurdecedor empurrão de ondas de ar que vêm e vão das peles sintéticas dos tambores e das paredes aveludadas. vem esporadicamente. elas fazem questão de acompanhar seus machos. um deles é apenas amante, o outro faz que não vê para poder manter as aparências e não ser incomodado quando entrar em seu ritual de distanciamento das coisas tangíveis. quando o som vira sabor e o cheiro vira vibração no ar é que elas percebem o quanto o maldito ar condicionado faz falta. o chão fica suado e elas são as únicas que não escorregam. isso porque estão inertes e coladas nas paredes enquanto tudo se constrói e se desmancha num piscar de olhos ao seu redor. elas querem ver para doer menos quando não puderem mais ir e acompanhar seus machos. perdem o medo de perder a personalidade em troca de um beijo nos lábios, em troca daquela vibração solta no ar.

desafinadas escrotas

parece meio lógico. não saber fazer significa não conseguir fazer. isso é uma equação bem lógica. descobrir isso pode levar um certo tempo e uma rede de elogios falsos pode deixar o processo de auto rejeição mais distante e obsoleto. velho a tal ponto que o resultado de um banho de água fria pode ser desesperador, minando até mesmo o desejo mais profundo e objetivo de busca pelo prazer real. mentir para si mesmo é escroto. fugir e falsificar opiniões a respeito do aceitável pode ser pior para todas as malditas partes. todas são fabricações de segunda mão. mal costuradas e mal bordadas, com brasões sem o menor indício de autenticidade. o bumbo continua a acompanhar o falso talento. a gritaria escrota continua a embalar minha insônia.

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prosa sobre a mesa de madeira de lei. a caneta bic azul clássica surfando na parte de trás dos documentos velhos que antes de morrer no fundo da lixeira, servem de rascunho.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O bucho e a loira

conversa entre dois trovadores maníacos



ALL diz: hmm, sursseleza então

Mada Fâka diz: mais surce que o bacana caído na sarjeta com a pica mole de fora... e vomitando

ALL diz: hehehehehhehehehe

Mada Fâka diz: isso antes de levar uma navalhada do companheiro de 'brita' no bucho e ficar com as tripas de fora, dai ele levanta e sai espirrando sangue e víceras na rua. por fim esbarra numa loira com vestido branco e enche ela de pele, sangue e pedaços do intestino

ALL diz: a loira olha para ele, apenas com repúdio e nojo, como se fosse um monte de merda. ele pega a sua garrafa de uma 'pinga vagabunda qualquer' e deita ao lado do bueiro dando as últimas tragadas...

Mada Fâka diz: ele começa a vomitar sangue com pinga e faz tanta força que começa a cagar nas calças uma diarréia marrom meio esverdeada e começa tremer e se contorcer até morrer. ninguém está na rua, ela está deserta, todos já abandonaram assim como o sopro de vida abandonou o corpo do crackelento chapado.

ALL diz: ehehhehehheheheh… bom final

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muitas outras se perderam nos bancos de dados da pracinha escura.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Peixes


uma crônica de Zé da Silva


Queria congelar a memória num daqueles momentos que, não se sabe por quê, ficou e volta, sempre volta, em qualquer momento, basta um nada, um odor, uma cor atravessando o ar, um som, uma palavra, um uivo, um gozo, um afago, uma neura, um surto, uma alegria, uma tristeza, a solidão mais dolorida. A loja na rua era daquelas esquecida no tempo. Tinha balcão de madeira e tampos de vidros onde se via tudo - de retrós de linha a bolinhas de gude leitosas. Um dia ele tomou coragem e entrou, dinheiro enrolado e amassado na mão direita. O senhor de cabelos ralos e brancos ergueu os olhos por cima dos óculos. Ele gelou. O dono da loja abriu um sorriso. Ele voltou a respirar. Pediu um pião, com fieira. Perguntou o preço. Dava para comprar. Foi aí que viu a camiseta pendurada na parede. Regata. Listrada. Preto e branco. Foi o momento eterno. De deslumbramento. Se viu vestido e praticando todos os esportes para defender aquela camiseta, não um time qualquer. Não tinha dinheiro para comprá-la. Nem podia pedir para os pais tal luxo. Ficou então com ela para sempre. Ela, a loja, a rua, aquele canto, o mundo. Já viu camisas iguais. Mas não igual àquela. A sua. Da sua lembrança. Que volta. E ele quer congelar para voltar a ser criança.

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história de um velho colunista de jornais.

"Ficou então com ela para sempre. Ela, a loja, a rua, aquele canto, o mundo"

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A Insípida e O Idiota





o último do maço. salto sem esperanças

Entra no correndor atravessado, caçando o alto da cabeça e desajeitadamente erguendo as calças. Encostado na porta de vidro, O Idiota olha para o além, disperso e retraído. A Insípida vem logo atrás e pede um cigarro. É o último do maço, terão de fumar juntos. O Idiota sente-se cada vez mais intimidado, mas tenta compensar sua vulnerabilidade da forma mais errada, abrindo brechas desnecessárias na conversa, errante num limbo de inexperiência e total apreensão.

A Insípida percebe naquele coçar de cabeça, andar de pés pra fora e cinto frouxo, algo que ela vê diariamente em si mesma, a distração. “Ele é devagar porque é lesado ou simplesmente é devagar mesmo?” pensa rapidamente enquanto solta a fumaça e desvia o olhar quando O Idiota finalmente toma a atitude já esperada de contemplar os pequenos olhos verdes de A Insípida.

O polegar da mão direita pende a borda da calça para baixo. A calcinha amarela de bolinhas brancas dela mostra seu potencial sedutor em meio a uma cena quase infantil. O Idiota se excita, mas para ele, a esta altura, nada mais será possível. Ele passa o cigarro novamente. Ela fuma mais um pouco. Joga fora. Não vai embora. Permanece no corredor entre a porta e o muro.

É lá, sim, é lá. Ao sul extremo. As estrelas consolam os desejos tímidos e coagidos de O Idiota. Com o olhar agora fixo no perfil dela. A Insípida sente que é hora de agir. Ele vai aceitar. Entre o certo e o mal feito. No corredor sem escolha, dentre tantas opções, ambos escolhem a inércia.

Ela sai. Ele sai. Sentados no sofá, sem palavras, sem nenhuma forma de expressão eles adormecem por vinte minutos. Depois ela vai embora. A luz se apaga. Ele sem esperanças se joga do sexto andar.

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'se todo excesso fosse visto como fraqueza e não como insulto, já me tirava do sufoco. a porta tá sempre aberta pro povo' - FR

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Hora do Traçado


traços. alguns riscos no papel branco. sobrepostos na cor. verde rabiscado por outros sub-verdes. traços. riscos no papel quadriculado. boca em forma de nariz, nariz/boca. mapas do mundo onde se caça javalis. traços. sortidos em estilos e efeitos. mão sobre mão no traço da contracapa do caderno.



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'o simples desenho a lápis é expressão pura' - Raimundo Oachunam

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eidese. A única saída por enquanto

Notas do subsolo. Ou seria do sótão encantado?

Eu queria controlar, de verdade, mas a maldita relação entre o tempo e o espaço me impede. Primeiro porque não depende de mim mais, entende como é difícil não ter mais as coisas sob seu controle? O que tinha de ser feito está, mas parece que ainda falta. Na verdade falta um único detalhe. O menor de todos. O vacilo no tempo. O tempo que agora espero mais do que nunca.

Me sinto machucado. Com, uma ferida que dói demais e ao mesmo tempo me faz sentir uma vida que não existia antes. Uma nova conjunção, uma nova forma de ver como as asas que batem nas entranhas ainda podiam existir, claro que nunca mais igual como fora. Parece que desta vez as coisas são mais acertadas, mais parecidas, mais engrenadas. Ao passo que vejo que na verdade ainda está meio longe daquela organização completa, daquele jeito como se deve ser.

A minha eidese não me deixou só, ao menos desta vez. Por mais que venha fragmentada, aos poucos, com cada nuance surgindo de uma vez, quando me pego no fim de um devaneio vejo toda a revelação física completa como de um salto; sempre do micro para o macro. Um macro completo e regado a traços perfeitos, no gosto, no cheiro e na intensidade do cabelo.

Quando menos espero a visão das coisas que foram vividas são reais de novo. Milímetro por milímetro daquele quarto fica tão parecido com outro de dias passados. Naquele segundo esqueço de todo o resto e até expulso posso ser com um sorriso no rosto. Uma alegria me invade e segundos depois, ao fim do devaneio, traz junto consigo a realidade dura e intransponível.

O detalhe menos importante é o tempo. Que ele tenda a passar rápido. Enquanto isso, fico aqui, esperando ‘la última ola’. Lá em cima, Betelgeuse, a gigante vermelha me diz que mesmo que ela esteja morta, ainda sua luz eu vejo. Sua luz vermelha. Intensa, gigantesca em espécie e conteúdo. Só assim da pra perceber o quanto o tempo não importa, por mais que ele tente te matar, se foi verdade, uma verdade dotada de luz própria, nunca se extinguirá. E eu, como antes mesmo, continuarei aqui, esperando o torcendo.

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"esperando la ultima ola. arriba la luna ohea" - oachunam

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Prioridade - Parte I


Agnes Montgomery

Conto escrito por Rodrigo Pinto

‘Jaque’, um sussurro. ‘Jaque’, um pouco mais alto. ‘Jaque!’, alto o bastante para Jaqueline olhar em minha direção.
- Jaque, preciso que você tire uma cópia daquele mapa pra mim. – sussurrei na sua porta. Só minha cabeça aparecia para ela, o resto do corpo me puxava de volta a minha cadeira com a força de um cabo-de-guerra.
- Vocês não têm computador em casa, não? – disse ela impacientemente doce.
- Claro, mas vou imprimir com o quê (com o cu?)?
Enquanto Jaqueline rolava os olhos pra cima como uma boa jovem de meia idade e se virava para o monitor compenetrada, eu tentava retornar ao meu posto a salvo, com a cabeça baixa e as mãos no bolso. Tentei bravamente passar despercebido pelo estagiário de nome Marlon, fingindo pegar um clipe no chão e dando alguns passos agachado até sair do seu campo de visão de lince carente quando ouvi sua voz dizendo qualquer nome que não era o meu, mas claramente se dirigindo a mim:
- Pssht, pegou o seu mapa-convite já? – perguntou o moço, levantando a cabeça atrás do monitor como se seu pescoço estivesse numa bandeja, e me observando ali agachado com a mão em um clipe de cor invisível.
- É... já pedi para a Jaqueline uma cópia, Marlon.
Não achei que ele ia ser tão arisco de me perguntar logo de primeira se eu compareceria na sua chácara para a comemoração dos seus 22 anos. Eu fui uma das únicas pessoas a não ser convidada pessoalmente e sinceramente achei que o estagiário de nome Marlon iria respeitar o protocolo e puxar um assunto banal com motivos misóginos e depois cobrar que eu fosse a sua festinha. Obviamente que minha presença seria inexistente, mas ainda sinto uma honesta fraqueza por socializações fora do ambiente laborioso e só o fato do estagiário de nome Marlon contar comigo em seu aniversário já me traz uma ressonância de boas vibrações para o dia todo.
Vencendo o dragão social com minha adaga introspectiva retornei a minha cadeira, desliguei o computador, joguei a calculadora na gaveta e os copos plásticos na lixeira. Me despedi de alguns e algumas, inclusive o estagiário de nome Marlon e seu Antônio do banheiro, no meu caminho até a porta da saída. Jaqueline já me esperava com o papel na mão, olhei para o papel e depois para a secretária que, aliás, tinha a cara da cor do papel e que deve ter estrias e varizes do formato das rotas do mapa impresso. Dei um peteleco no papel e sai porta a fora dizendo tchau sem olhar para a cara de a4.
O calor era do caralho. Descolei a camisa das costas e comecei a andar em direção de casa, mas sem antes passar numa rua chamada Belo Horizonte onde tem uma ótima panificadora com pães saborosos e funcionários antipáticos.
- Três pães, por favor. – A resposta não foi nem um olhar sequer, só as costas da mulher do dono e logo depois o saco com os três pães quase acertando meu rosto. Foda-se. Peguei uma garrafa de coca-cola e um pacote de leite B.
Cheguei em casa por volta das 5:40, me sentindo muito quente e com os pés doendo. Tirei o sapato para não sujar o piso e não demorou segundos para Rakim vir cheirar e lamber minhas meias suadas. Ô criatura! Afastando a besta com a perna, entrei jogando o pão na mesa, tirando a camiseta e me estirando no chão para a alegria do cachorro. Fiquei ali deitado por quase 10 minutos, com a camiseta no rosto, as costas grudadas no assoalho e os braços abertos como um goitacá baleado.

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domingo, 26 de julho de 2009

AKs-40esete

aqueles que antes eram bestas a solta na selva úmida, agora se ajoelham largando sem pudor sua armadura



Podia parecer que era perda de tempo. Mas aquilo mudava devagar. E sem falar do que foi ordenado entra na tumba maia, atira uma explosão de ódio como um assassino de bois vietnamitas e desfere os golpes de foice. Subverte a idéia de Deus para aquelas pobres criaturas armadas com seus ‘AKs-40esete’, aqueles que antes eram bestas a solta na selva úmida, agora se ajoelham largando sem pudor sua armadura de lama e tintacamuflagem, aceitando todas as malditas condições que este gesto teria como cobrança. Eu sei não é assim, mas deixa-me mentir, pelo mais algumas vezes até que tudo isso possa ser esquecido num incenso que incendeia a cabeça do ‘pipextralongoasiático’.

Eu acredito ainda nas regras que este jogo escatológico coloca a vista como aqueles que expõem em suas vitrines seus sapatos e roupas caras, ilustrando que tudo que é aproveitável será corroído pela moda ou pela traça dos guarda-roupas gastos. É o fim antes do começo, a pupila amanhece dilatada e morre na noite dilatada. Aberta. Ser um eterno parasita que precisa de uma introspecção mentirosamente induzida, e mata, e assassina a si mesmo com as mãos dos que estão do outro lado da linha vermelha, atirando nas marcas que as bitucas fazem na escuridão.Escrevendo em letrasflashs a palavra “morte” rapidamente. Das portas do pequeno barco pedem o ataque aéreo, o fim explosivo se aproxima.

Veloz como a cavalaria, senhoril e indestrutível como um feudo lava com chamas uma massa esquecida e destituída de valores moralistas como vida ou ‘cabeçapresa’ no pescoço. Lendo as poesias auto-condenativas na porta da cabana molhada, ele pede, mais não vai morrer assim tão facilmente. Não agora.

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Tomar um território não significa libertá-lo. Não é nada além de necessidade de se ter algo cada vez mais e maior nem que para isso tenha que se matar o próprio ego enlouquecendo aos olhos dos que ‘tudovêem’.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Profilaxia






Você com a arma do lado Tome cuidado na briga que esse rei na barriga Tá ficando velho Alto lá nego doido Tá com medo pra que veio Tá com perna bamba de quem vai morrer Eu tô cansado da TV e do bombardeio da moda Manda comprar tudo que eu ver Tudo que ela tem pra vender Eu tô cansado eu sou um calo nos dedo Da mão na roda Que não para de crescer A lei não sabe a diferença o que é ser e ficar louco O remédio é tão forte que mata cada dia um pouco Se todo excesso fosse visto como fraqueza E não como insulto Já me tirava do sufoco.

Filosofia Raimundana

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O tempo todo eu pensava que o que sentia era simpatia, quando na verdade era empatia. Não vou ficar aqui exagerando a importância dessa sutileza semântica, mas acho que ela merece um comentário, pois quando duas palavras-chave tombam uma por cima da outra desse jeito, pode ter certeza: há alguma coisa em marcha. Sem hesitação, sem repetição, sem rodeios. São como a confluência de dois rios – dois processos, mais do que dois objetos. É, e também como dois verbos, e não dois substantivos.

Will Self

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Empatia: projeção imaginária ou mental de um estado subjetivo, quer afetivo, quer conato ou cognitivo, nos elementos de uma obra de arte ou de um objeto natural, de modo que estes parecem imbuídos dele. Na psicanálise, estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que esta está sentindo.

Dicionário Michaelis




ele volta a tomar a colina para si mais uma vez. ela estava mais sedutora e pornográfica a cada dia.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Fazendo o que foi dito

Assassinado aleatóriamente. Espingarda de dois canos, serrados, cheirando pólvora.

Não jogue fora o que está do outro lado.
Nunca se sabe exatamente o que você vai encontrar.
Trancado e carregado, algumas vozes gritando "Não vá!"

Só estou fazendo o que me foi dito.
Matar alguém sem se explicar.
Meu Deus, é assim mesmo que a coisa funciona?
Eu fecho meus olhos na hora errada, isso me perturba.
Vamos fazer com que todos saibam?
O fim vai vir enquanto chove.
Meu Deus, é assim mesmo que a coisa funciona?

Passando tudo de novo e de novo em minha cabeça.
Vamos fazer com que todos saibam?

Explosões me perturbam!
Explosões me perturbam!
Me perturbam!
Me perturbam!

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Tudo é o que parece...

Bebado, fedorento, chapado e sureal.
Dentes amarelos, escroto, idiota, egoista e independente.
Completamente doidão, ideias sem sentido, anacrônico e simples.
Sem graça, feio, otário e interessantemente profundo.
Boca-suja, sem escrupulos, sem noção e expressivamente verdade.
Dois olhos, um estalado, outro baixo.
Luzes verdes e brancas.
Um maluco sempre é o que parece.

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"Sem caso nunca fica o acaso" - Druida de uma religião qualquer

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Três vezes

Mais uma daquelas com números...


Cora Buettenbender



Lendo algumas coisas sobre a mesa molhada, alguém escuta percebe e um interesse difícil de explicar brota estranhamente em seus olhos e ouvidos. Convido. Entra devagar olhando para os lados. Presa na varanda fria, alguns sussurros mentirosos. Quando a porta abre, senta numa cadeira de couro com os apoios para os braços pratas. Grita em silêncio a vontade que tem, o desejo que tem.

Depois de três garrafas verdes e de uma longa exposição ao calor, tudo recomeça. Depois desse tempo impedido de ser, agora a identidade aflora, mais verdadeira e entorpecida. Fatos ocorridos nas noites de um tempo antigo.


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"Mentira lo que disse, mentira la verdad..." - Manu Chao

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pausa




Bem gente, é o seguinte. Eu comecei em dezembro a escrever mais um daqueles contos que costumava a publicar aqui neste blog. Comecei despreocupadamente, sem fazer muitas previsões, assim como os outros.

Para mim seria mais um daqueles curtos contos, como sempre fazia.
Mas desta vez, não sei porque, rolou uma vontade de trabalhar mais em cima desta nova história. Acho que as coisas começaram a se encaixar, mas nada é certo...

Por isso, (sei qua ja tem um tempinho que não publico nada), darei uma pausa de mais alguns dias para terminar essas história. Dai volto a postar. Não tenho certeza se será este novo conto, mas até lá vejo.

Valeu ai... até mais....