quarta-feira, 28 de abril de 2010

Psychology Class

Dentro da câmara de gás.

Nazistas desenvolveram a disciplina. Eles gostam de manipular. Eles ainda estão escondidos por ai e pior, continuam trabalhando. São inquisidores e só aprenderam a vencer pela imposição da dor. Sádicos safados, eles não só querem matar, querem nos fazer sofrer. E fora que são extremamente sem graça.

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Há efeitos imediatos, que ocorrem sempre após uma dose. Pode causar malformações e atrofia. Ela pode ser detectada nos cabelos durante muito tempo de consumo.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Falsa tremedeira

Centro de Curitiba, Lineu Filho

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Baseado no depoimento do velho Raimundo Oachunam

Sonho ou pesadelo de barriga cheia.

Muitas coisas falam sobre a abstinência. Na verdade, muitas coisas falam sobre muitas coisas. Eu sempre achei tudo meio mentira. Não mentira completa, mas sempre duvido do que diziam sobre as coisas. E com a abstinência não está sendo diferente. Uns falam de tremedeiras noturnas (ou seriam diurnas, ou somente nas tardes de calor?) sempre acompanhadas de sessões de suor as bicas.

A dor de cabeça é a mais famosas das sensações do cara que se submete (ou é submetido a força) a abstinência. Eu só me sinto mais chato. No começo, isto é, nos primeiros dias achei que seria um cara mais irritável, mais estourado, involuntariamente. E realmente fui, mas bem menos do que achava e por menos do que havia previsto. Acho que é porque acredito facilmente no que dizem, ou não, ou porque não acredito mas seja diariamente assombrado por minhas máscaras.

No começo tentei nega-las e até senti vergonha delas algumas vezes. Mas hoje de manhã (talvez tenha sido há alguns anos atrás) eu tenha descoberto que não adianta fugir. Então assumi, morrendo de medo, mas aceitei e mais que isso, eu as assinalei com uma caneta marca-texto amarela. O que importa é que eu não tremo. Até tive uma ou duas dores de cabeça, mas sempre foi meio normal, ou não talvez, bem de qualquer forma não me lembro. Só sei que está sendo bem menos do que eu esperava (ou do que me disseram para esperar).

A única coisas que eu não tenho percebido são os níveis de tédio, eles tem aumentado em detrimento de algumas vontades que se reacenderam e ganharam mais fôlego inexplicavelmente. Mas isso ninguém vê. Eu fecho a porta e acendo a luz, deito na cama e ninguém vê. Ultimamente estão mais preocupados com a vida alheia. Vida esta que não é a minha. Então eu pingo o colírio para lubrificar e mostrar meus faróis. Deixá-los mais a mostra e mais significativos, mas parece que não adianta. Eu só tenho visto mais e melhor, nada mais.

Eu firmo a mão e não tremo. Molho a nuca para não tremer e não tremo. A paranóia me diz que não vou conseguir. Eu, mais uma vez, choro de rir da cara dela. O seu odor fétido me deixa mais medroso. E quem disse que isso é ruim? Eu só sinto falta e o resto, bem, o resto é só sonho ou pesadelo de barriga cheia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Leitura flutuante sobre causa/efeito

Eu costumava dar mais valor as coisas antes. Os dias eram mais significativos e em alguns deles eu demarcava momentos, situações para lembrar depois. Como o dia que eu parei a bola esfarrapada de capotão perto do muro da vizinha da frente da minha casa. A casa dela era de madeira como a minha. Tinha uma fachada parecida com a minha. Até a torre de ferro para segurar a antena da TV era igual a da minha.

Tudo era tão leve nessa época. Flutuante como a pipa, da qual não me lembro a cor, planando de baixo daquele sol que fazia arder o campinho de terra. As coisas naquele tempo eram tão simples e mesmo assim eu me preocupava, assim como hoje.

Mal sabia. Eu já tinha esse medo. Mas até ele era mais simples. Naquela época eu conseguia segurá-lo da mesma forma que dominava a velha bola no pé. Hoje eu sinto um medo mortal, muito mais forte. Mas eu sei que vou dominá-lo. Talvez um dia eu conte e faça a todos saber o que eu realmente sentia e sabia naqueles dias. Eu sinto falta deles. Não por nada, apenas sinto. Talvez a gente descubra, ou talvez não (eu acho).

Agora com certeza eu enxergo que no fim foi o medo e não o desespero que fez tudo ser simples e direto como foi. Só sabia porque senti o corte e vi o sangue, não porque me enganaram mais uma vez dizendo que era como eu imaginava que fosse. Enfim, o medo não só é a causa como o efeito, a certeza infelizmente (ou talvez não) não cabe, não serve como peça fundamental para se decifrar este enigma. Como eu disse, um dia, quem sabe eu consiga finalmente, e não tenho firmeza nisso, descobrir o que foi toda essa coisarada. Se isso acontecer, fique tranquilo, você será o último a saber.

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a parede parece muito resistente e dedão acha que só com sua força não vai conseguir atravessá-la. não teme, apenas sofre por antecipação.

domingo, 4 de abril de 2010

Úmido total

Morro do Canal II

A água é gelada por ali. A represa do Carvalho, antiga captação de água dos mananciais de Piraquara para abastecer a região metropolitana de Curitiba. A placa na entrada indica a data de 1905. Hoje, o antigo sistema de piscinas não é mais usado. É um, digamos, ponto turístico próximo a serra. Eu e o Guia, a Mulher de botas e o Segurança fomos de carro até o reservatório principal. De lá para dentro a viagem continuou a pé.

Alguns registros foram feitos da bela paisagem. Eu esqueci minha parte do equipamento no carro. Já estávamos caminhando a algum tempo e tive de voltar sozinho, por um longo trecho para buscá-los. A roda preta e a erva.

A caminhada até o carro foi tranquila. Minha mente me dominou, o medo paranóico dominou o ritmo da minha caminhada. Na volta, a trilha de cascalho já era mais conhecida, as curvas no meio do matagal já eram verossímeis.

Várias libélolas, borboletas e beija-flores. A água é gelada por ali e entramos numa das piscinas até a altura da cintura. Comemos sanduíches de queijo e bebemos água da nascente. Comemos maças geladas na água da nascente. O céu oscilava. Fechado. Aberto. Fechado. Ensolarado.

O tédio começou a nos tomar e vimos a noite quase nos apanhar ainda na trilha. Voltamos a caverna . O tabaco e o álcool acabaram e subimos alguns quilometros, eu e o Segurança, com cascos das garrafas, jaquetas impermeáveis e guarda-chuvas até a venda do Zezinho. As poucas moedas nos renderam quatro cervejas e a chuva na escuridão nos fez ir mais devagar. Cair nas pedras pode ser fato, depende do equilíbrio do indivíduo.

Pela metade do caminho, quando a vigilância na estrada nos abandonou (porque o ser humano é assim, a rotina e a distração as vezes nos coloca em perigo) uma movimentação me tomou de assalto. Pensei ser um sapo, se mechendo naquele trecho do caminho, negramente chuvoso. Quando me vi de volta a si, novamente em estado de alerta (porque o ser humano é assim, sempre assombrado por seu instinto de sobrevivência) vi que era algo mais rasteiro, seu corpo todo em contato com o solo barrrento. “Uma cobra!” gritei para o Segurança. Ele pulou e disse “mentira”. Eu disse “não é mentira, veja, ela está entrando no mato, ali no barranco”. Mas ela já tinha se embrenhado na vegetação. Pensei comigo “filha-da-puta, cobra do caralho. Isso, suma, assim nunca acreditarão em mim”. O Segurança, diante da cena me chamou de “alarmista de merda”. “Desnecessário”, disse ele, “Desnecessário completamente”.

Assustado e com ar de mentiroso terminei a caminhada. Um banho de água fria, acorda, esperta para a realidade. Nem que seja um banho de água fria na credibilidade do seu discurso.

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"Mentira la mentira
Mentira la verdad

Todo es mentira en este mundo
Todo es mentira la verdad
Todo es mentira yo me digo
Todo es mentira ¿Por qué será?" - Manu Chao