domingo, 23 de maio de 2010

Janela que dá para rua


Stencil brick

eu só preciso começar e dai pra frente as coisas vão fluir, eu sei, parece até clichê dizer, mas eu só preciso dar o primeiro tiro, a primeira rajada fumegante em direção ao fim dos 20 quilômetros mais longos dos últimos seis meses. é meio desafiador, isso eu não nego, mas no fim será extasiante eu acredito! uma lastima perceber que as pessoas costumam dar pouco valor as coisas que realmente interessam. um dia desses quem sabe os humanos deixem seu lado menos compulsivo aflorar mais. quem sabe quando este dia chegar os terráqueos possam olhar com mais calma para as coisas que os cercam, possam não somente olhar, mas parar e digerir. não é
a toa que os sistemas mais eficazes na produção criativa precisam de um tempo para compreender o que os afeta e em que parte se devem demora mais tempo. sinto falta dos meu livros emprestados. não porque vou usá-los imediatamente mas acho que eles deveriam estar aqui comigo me servindo de referência. eu me sinto meio perdido, preciso de uma mapa ordenado linearmente, da esquerda para a direita sobre papel físico. eu tenho medo de me perder, mesmo que este medo seja inconsciente ele existe e eu sei muito bem disso. chega por hoje, quero ler meu livro preferido do momento, mesmo sabendo que amanhã terei esquecido que ele existiu para mim. só pra eu não esquecer, o mundo é bem mais do que isso, não me deixe bitolar de novo, eu não quero mais! ta passando rápido demais essa merda toda... estou embalado e bêbado de vontade de subir ao andar superior e ter um encontro surreal com a loucura na escuridão. a janela que da para rua vai ser minha companhia.

domingo, 16 de maio de 2010

Psychedelic alkaloid for meditation

eu estava deitado. meus ossos e músculos doíam e eu não conseguia achar uma posição confortável para poder dormir. eu não conseguia dormir. mesmo que fechasse os olho eles pareciam estar abertos. eu estava dentro de uma nuvem preta com flashes de várias cores explodindo. indo e voltando. algumas vezes pareciam estar fixos, mas logo que eu focava os olhos sobre um deles, então todos mudavam de lugar. foi então que comecei a sentir medo. eu abria e fechava os olhos naquela escuridão e parecia estar sempre na mesma posição, como se não tivesse me movido desde o momento em que me deitei para tentar amenizar as dores dos meus músculos, das minhas costas, dos meu ossos, mas nada passava. ouvia vozes e elas pareciam sempre distorcidas. algumas vezes pareciam ser de alguém triste, um choro desesperado. mas logo mudavam e seu autor parecia agora uma pessoa com muita raiva. comecei a confundir de vez o que era raiva e desespero. por fim me via novamente tomado pelo medo de nunca mais poder dormir, de simplesmente nunca mais sair daquela escuridão cheia de raios coloridos e daquele sons que iam e voltavam.


eu corria, andava sem rumo por todo aquele gramado negro e me confundia se ele era um simples planalto com pouquíssimas árvores ou se era uma bolha sem fim. uma bolha gigante de plástico e para onde quer que eu corre-se, para qualquer lugar onde eu me jogasse eu nunca mais me machucaria, eu enfim estaria seguro e então poderia fazer simplesmente o que eu tinha vontade naquele momento. e o que eu mais queria era correr. correr e me jogar no infinito daquele tapete preto e sentir cada milímetro da queda até o chão e quando lá chegasse, mesmo vendo a superfície sólida e dura do concreto eu simplesmente sentiria o gramado e então a maciez da bolha. da bolha sem fim. então estaria seguro, confuso, perdido na grandeza do plástico negro flutuaria. quando tudo isso se delineou na minha frente e eu realmente podia sentir que era real, minhas dores sumiram e eu estava finalmente em pleno vôo. flutuava e as luzes, o sons estranhos não me faziam mal. fui levado por aquela corrente e ela nunca me pareceu tão macia. foi tudo que vi enquanto tentava dormir. eu realmente não sei se consegui. mas tudo bem, ainda estou vivo e não morri, ainda sinto vontade de correr naquele gramado de novo, mas tenho medo. não me machucaria é claro, eu sei que ele é perfeito, só tenho medo de não voltar mais. no castelo dos sonhos eu simplesmente tirava o óculos emprestado e podia sentir que ainda estava com os pés firmados no chão, o vôo acabava bruscamente e o medo de não conseguir voltar para casa era menor, mas ainda estava lá. bem eu voltei e agora estou aqui e sei como as coisas podem passar.


é difícil sair do circulo, precisei ser puxado para fora, ser despressurizado e foi tão simples. vejo agora como foi tão simples. era só tirar o óculos e parar de me preocupar. quando deixei que a bolha macia me levasse tudo foi tão diferente, macio e flutuante como da primeira vez e meus as visões que tinha do passado pareciam ser reais. enfim era um menino correndo nu no gramado da bolha sem fim e me deixei cair até sentir mais uma vez que o concreto do asfalto não era duro e sim macio. um gramado onde estive seguro e percebi que se entrasse na bolha mais uma vez não iria querer sair mais dela. era tudo tão real.


faça o que quiser, vou me jogar agora mesmo. aproveite o resto do que se tem para ver e não me diga que tudo era tão sem graça no final. depois da sua escolha tomada não vai adiantar mais abaixar o som. ele ai te perseguir e então corra para a van insegura que está do lado de fora da bolha negra e vá embora antes que ela se despedace na queda. eu estarei feliz, deitado no gramado da bolha se fim. um abraço e até nunca mais. nossa comunicação não tem funcionado mesmo, a gente tem andado em círculos todo este tempo e tudo porque eu quero comprar um cachorro quente e você quer um maldito cigarro. beba a cerveja enquanto eu bebo água pelo furo que fiz no fundo da garrafa de plástico. os pingos me hidratam melhor e assim vou mais devagar. posso então curtir o sol atravessar o céu sem me levantar e quando a noite chegar novamente será um novo tormento e não conseguirei dormir novamente. mas desta vez eu saberei o que fazer e vou ficar deitado assim mesmo, vendo os flashes coloridos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sofrer pelos safados

Curitiba, 05/05/10. Lineu Filho


Fila do Fórum Eleitoral, obrigações deixadas para a última hora


Esta manhã, como muitos brasileiros, acordei mais cedo para ir ao Fórum Eleitoral, afinal era o último prazo para fazer ou transferir o título de eleitor. Estamos em ano de eleição (e de Copa do Mundo) e tudo no Brasil parece girar em torno disso. Não vejo nenhuma razão especial para esta efervescência nos períodos eleitorais, além do fato de termos uma população de quase 60 mil políticos eleitos de forma direta no país, e eles precisam de quorum para garantir mais quatro anos no poder. Por isso, aqui, ao contrário de outras democracias, é obrigado votar.


A fila estava enorme logo as 8h00 da manhã. Um minhocão de pessoas (na maioria jovens aparentando menos de 25 anos) em zigue-zague no enorme pátio do Fórum, uma obra pública típica, quadrada, cor de concreto e sem muitas firulas arquitetônicas. Era uma multidão de mais de mil pessoas, que mostravam um ar de cansaço só de entrar naquela fila interminável de baixo do sol forte da manhã.


Pode parecer clichê falar da fama que os nascidos nessas terras calorosas (e preguiçosas) têm de deixar tudo pra resolver na última hora, mas este é um do cernes desta questão. Falo isso por mim mesmo. Passeis as últimas semanas com esta ida necessária ao Fórum me incomodando mentalmente, mas como sempre, ficou para o último dia.


Tudo piora com a passada de alguns funcionários orientando e “triando” o pessoal da fila. Eles fazem questão de dizer, “porque em dias normais não tem nem fila, é só vir e ser atendido”, como se isso fosse ajudar. Só dilatam o sentimento de culpa de não ter ido nos dias em que a média de atendimentos não chega a 200 pessoas. Somente neste dia 4 de maio, penúltimo para por a situação de eleitor em dia, foram 4.400 pessoas passando por lá.


No meu caso, tudo mudou com as orientações da funcionária da Justiça Eleitoral. Descobri que meu comprovante de residência não servia e que o máximo que eu conseguiria neste dia era justificar o voto da eleição de 2008 (que não votei por não ter transferido o título de Santa Terezinha de Itaipu para Curitiba). Resultado: sai da fila depois de duas horas no sol, fui atendido por uma senhora simpática que nem me cobrou a taxa para justificar o voto.


No fim, a própria senhora contou a moral da história sem querer. “Deixa para transferir em dezembro, não vai enfrentar fila”, e quando indaguei dizendo que assim não poderia votar este ano, ela disse, “não adianta nada mesmo”. Desgaste em vão. Mais um ano sem ir a “festa da democracia”. Quando for velho terei de ser mesário vitalício para pagar estes pecados.


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Por el suelo camina mi pueblo

Por el suelo moliendo condena

Por el suelo el infierno quema

Por el suelo la raza va ciega...

Manu Chao