quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A Solidão de Um Menino - Parte 7

O fim das discussões. O veredicto de Jango. Rossinho conhece seu primo Marcelino.

A cada momento que passava perto de Rossinho, o afeto crescia em Jango. O menino, que nos primeiros momentos junto havia demonstrado apenas traços rudes e grosseiros, agora indefeso e atingido por uma tristeza passageira, mostrava seus traços infantis e dóceis, próprios de uma criança frágil que necessita de cuidados. O menino, depois de comer, adormeceu ali mesmo, próximo a árvore. Jango, observando aquele sono tranqüilo quase se esqueceu dos parentes, que a muito discutiam dentro da casa. Uma discussão interminável. Decidiu então, ir lá e dizer a todos que ele seria o tutor de Rossinho, e que dele cuidaria, assim como da propriedade até que o menino pudesse tomar conta dela sozinho. Isso fez, acomodou melhor o menino ali próximo da árvore e se dirigiu para a casa novamente.
Entrou pela porta da frente, com passos fortes, que no assoalho de madeira faziam um estrondo muito forte e ressoava por todos os cômodos da casa. Todos olharam para ele com certo espanto, afinal havia entrado por ali há alguns minutos atrás e entrava novamente pelo mesmo lugar? Não haviam o visto saindo, porque ele usara a porta de trás para fazê-lo. Após esta entrada repentina, Jango pediu para que todos se calassem que ele tinha algo a dizer. Então começou – Chega desta discussão, até agora falei pouco, e vocês apenas falam de si mesmos e do que querem, são todos uns avarentos e gananciosos, apenas querem a propriedade de nossa mãe. O menino, alguém se importou com ele? Acho que devemos ser mais sensatos, respeitar um pouco os últimos acontecimentos, agir com humanidade não com ganância e dissimulação! – Dito isso todos retrucaram, porém ao mesmo momento, voltando ao estado de alvoroço. Com mais um grito de “calem-se” Jango retomou o respeito e a ordem. Disse ele – Bem, eu agora vou dizer o que vamos fazer. Eu levarei o menino para minha propriedade, ele morará comigo e com minha família, vou ensiná-lo tudo que deve saber, e cuidaremos desta chácara, viremos aqui esporadicamente, assim, quando ele tiver idade poderá ficar com ela, morar, vendê-la, enfim, fazer o que quiser, afinal, esta é sua herança! – o silencio pairou sobre aquela sala, ninguém tinha objeções, era o mais justo a ser feito, mesmo que quisessem não encontrariam nenhuma desculpa para mudar a situação.
Mesmo assim, alguns ainda tentaram mostrar outros pontos que poderiam ser analisados, alternativas para a solução do problema, mas o consenso era quase total, afinal, só mesmo alguém com muita força de vontade adotaria aquele menino rude e sujo, e o levaria para dentro de sua casa. Deveria ficar mesmo num sítio, sua ida para a cidade era verdadeiramente inviável.
Depois de horas e horas de conversas, enfim tudo tinha acabado assim simples e rapidamente. Todos foram para suas casas, tomaram seus cavalos e carroças e em alguns minutos já haviam sumido ao longo da estrada de saída da chácara. Nela, haviam restado Rossinho, ainda dormindo próximo a árvore, Jango que fazia preparativos para deixarem a casa e para que a mesma ficasse em segurança e aquele garoto triste que brincava com um peão, o único filho de Jango, chamado Marcelino.
Continua...
N.A.: O próximo capítulo será o final.

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