sábado, 26 de janeiro de 2008

A Solidão de Um Menino - Parte 5

O início das discuções
A noite chega, todos os familiares vindos até a casa para o velório e enterro de Dona Isabel permanecem ali para resolver alguns problemas. Na verdade dois problemas bem particulares. Quem ficaria com a propriedade e quem ficaria com o garoto. A discussão começa.
A propriedade era muito valiosa, tinha uma área onde se poderia cultivar a terra, uma área de bosque, ótima para o descanso e que proporcionava uma boa sombra a casa, e talvez a melhor característica, ficava a beira do Rio Negro. A parte do rio que passava pela propriedade era bem larga, e se afunilava corredeira a baixo, eram águas correntes, muito limpas. Servia tanto para a extração de água para suprir necessidades diárias como também para o lazer. Ainda havia uma velha bomba que trazia água das corredeiras até a casa, que ficava um pouco longe da beira do rio. É, realmente era uma propriedade de muito valor, porém não muito extensa, o que tornava impossível ser divida em partes. Sendo assim quem ficasse com ela, teria de ficar com toda sua extensão. Isso agrava mais ainda a problemática e a discussão.
Enquanto todos passaram a noite em volta da mesa discutindo o problema da herança, Rossinho permaneceu lá fora, no bosque, perto da sepultura de Dona Isabel. Durante as longas horas que ficou ali, pensou em varias coisas. A que mais lhe incomodava era a maneira como sua avó tinha morrido. Será que fora de velhice mesmo, ou algo de ruim teria acontecido com ela? Neste momento começou a remoer-se. Talvez se ele estivesse ali, em companhia dela sempre, mesmo que ela não se importasse com isso, poderia ter evitado sua morte? Talvez ele tivesse sido a causa de sua morte? Talvez ela se importasse de ele estar distante, somente não demonstrava isto, e poderia assim ter causado sua morte por desgosto? – Não, não, acho que isto não – disse a si mesmo. Mas e se fosse? Aquelas dúvidas não paravam de incomodar aquele menino em mais um de seus momentos introspectivos.
O dia estava quase raiando, e ainda os parentes, lá dentro da casa, ainda discutiam e não chegavam a lugar nenhum. Uns sentados na mesa, outros andando em volta dela, outros ainda lá fora, fumando seus cachimbos, mascando fumo e cuspindo muito. Rossinho continuava lá fora, agora dormindo na grama molhada. Seu nome sequer havia sido citado nas discussões até aquele momento.
Porém, aquele senhor, o irmão do meio do pai de Rossinho, aquele que fora procurá-lo na mata e o encontrara e trouxera até o local do velório fez uma proposta, algo que traria uma possível resolução aquele dilema. Levantou-se, chamou a todos, os de dentro e os que estavam lá fora. Enquanto todos entravam, permaneceu calado. Somente no momento em que todos estavam dentro da casa, e envolta da mesa ele começou a falar. E disse mais uma vez rapidamente e com poucas palavras, - O legítimo herdeiro desta propriedade é o menino! Todos se espantaram percebendo razão naquela afirmação. Porém suas mentes se mostravam relutantes a ela. O senhor alto, continuou dizendo, - Este menino, foi o único companheiro de nossa mãe nestes últimos anos. Nós já somos adultos, temos nossas próprias casas, nossas fazendas, nossos empregos. Ele não tem nada, e o pouco que sempre teve ainda iremos tirar dele? Acho que este seria o desejo de nossa mãe, peço a todos que respeitem isto. – Após dizer estas palavras, retirou-se daquele recinto, foi para fora da casa, em direção a sepultura de sua mãe.
Após a saída do irmão, todos os outros reiniciaram a discussão, agora com outro foco, refletindo nas poucas palavras que ele tinha dito, e na razão que elas tinham. Quando quase consentiam de que aquela era a melhor e mais acertada decisão, um deles apontou outro problema. Como poderiam eles, confiar uma propriedade como aquela, que necessitava de certos cuidados, sendo que não passava de um garoto de dez ou onze anos? Como ele se manteria seguro ali, como comeria, limparia sua casa? A solução mais correta, levando em consideração a hipótese de que a propriedade ficasse com ele, era escolher um tutor, para assim poder administra tudo até que ele tivesse idade. E assim iniciou-se mais uma vez a briga, para resolver que seria este tutor. Claro que nenhum deles se importava verdadeiramente com o menino, no fundo queriam mesmo era ficar com as terras, e desta história tirar algum lucro.
Continua...

Um comentário:

May disse...

eu tô viciada no 'a solidão de um Menino'. :p
há tempos leio teu blog, mas nunca me pronunciei ;x
eu gostava muito daquele conto(eu acho) que tinha algo a ver com laranjas!
aoskasoaskaosakosa
muuito bom ele!
;*