quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Red Nose

final round.

Mudar o ar. Ou mudar de ar. Não sei bem como seria descrever isso, nem sei se conseguirei me fazer entender. Mas o fato é que não só a paisagem, mas o ar muda. Não aquela historinha de “mudança de atmosfera” sabe. Não aquela coisa de que “poxa, o ar daqui é diferente do ar da Bolívia, altitude e tudo mais. Não, não tem nada a ver com isso. Tem haver simplesmente com a maneira como você sente o ar entrando. Eu nunca senti tanta saudade da neblina até atravessar o ultimo pedágio na estrada. Serio, foi uma coisa interessante, eu abri as janelas simplesmente para sentir o ar úmido entrando. Foi estranho. O ar realmente muda. Isso é perceptível por todos os sentidos. O gosto é um dos mais misteriosos. Se vê por ai num livro, numa poesia, numa reportagem ou até mesmo em alguém falando num discurso aberto, uma descrição do gosto do ar em determinada situação, em determinada cena. As pessoas conseguem dizer que o ar era agridoce, salgado, insosso ou sei lá, qualquer outra sensação que se pode associar a língua, ou ao que a língua absorve para o sistema nervoso. Eu nunca tinha parado para pensar nisso. Geralmente passava por cima, mas no fundo o ar tem um gosto, e ele muda mesmo. Mas neste caso, eu estava descrevendo uma mudança de ar que é mais generalizada. Falando da mudança de ar junto com o seu deslocamento geográfico. Daí já dava pra fazer outras associações, mas acho que só o lance do “gosto do ar” e da “mudançazinha de ar, rápida (um período curto demais pra dar uma opinião mais completa)”, já me contenta por hoje. (90° post do blog).


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- Ar sujo? Só depois da faixa amarela amigo. Obrigado!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cheiro abafado





Na sala clara, cheia de janelas. Deletar.


Me sinto como se estivesse lá ainda. Não é bem como me sentia quando estava lá efetivamente. O ar ainda tem nuances de quando estava lá. Aquele cheiro abafado, com a fumaça pairando. A porta da varanda ainda aberta, com o barulho infernal entrando o tempo todo. Os telefones e a televisão berrando. Um berro com o cheiro do café preto, forte. Do piche escuro, das duas portas ladeadas dos sanitários, próximo ao arquivo morto.

A calmaria que vejo agora me impede de realmente sentir o que sentia, mas eu continuava pensando como seria ter ficado lá. Como seria se eu tenta-se mais uma vez, como tantas, em vão. Esse é o gosto nostálgico da mudança. Que vai impregnar a boca por alguns dias, e mesmo quando ele não estiver completo, rançoso, mesmo quando ele parar de incomodar, algum resquício ainda restará. Ele vai acompanhar os dias que se desenharão naquela rua escura, por detrás da avenida principal, onde naquela sala totalmente clara, cheia de janelas, o gosto do ar pesado não existirá mais. Melhor assim. Isso sim, isso sim é verdade.

Maldita memória, maldita memória que me faz ter vontade de sentir tudo aquilo de novo. O peso do tempo, que eu não acredito passar tão rápido quanto dizem, acaba vindo de um vez só. Tanta coisa em tão pouco tempo. Já não estou mais lá, talvez eu volte, mas só pra ver como está, como as coisas continuaram a se mover sem que eu precise mais teclar aquelas teclas pretas e ajudar a desenhar diariamente o destino daquela sala densa e barulhenta. Deletar. Até logo, vou tentar viver sem por enquanto, vamos ver como é isso.