quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A Solidão de Um Menino - Parte 3

A busca por Rossinho e seu retorno para casa.

Estava em cima de uma árvore quando avistou ao longe uma movimentação. Teve medo, mas logo tratou se aproximar para ter certeza do que era. Correndo pelo flanco direito e dando a volta no objeto que se movimentava, Rossinho atingiu certa altura que o deixava nas costas do ser que caminhava pelas suas matas. Era um homem alto, que abria caminho com um facão longo, com botas, luvas e chapéu enormes, com uma postura ereta, algo que lhe conferia ainda mais imponência perante a posição arcada e quase corcunda do menino. O homem era seu tio, irmão do meio, poucos anos mais velho que seu falecido pai. Mas esta era mais uma informação que Rossinho não tinha. Para ele provavelmente era um caçador, ou mesmo algum enviado pela escola rural, para encontrá-lo, levá-lo de volta para que fosse castigado.
Aquele senhor de meia idade, muito experimentado em caminhadas por matas fechadas, logo percebeu que algo o seguia. Quem sabe um feroz animal, ou mesmo um cervo que poderia matar e levar até os outros que ainda se encontravam no velório, para assim agregar algo mais no jantar, no momento nem lhe passou pela cabeça que poderia ser, de fato, o menino. Assim, calmamente foi abaixando-se, até que ficasse escondido atrás dos pequenos arbustos. Rossinho perdeu seu alvo de vista. Mesmo conhecendo muito bem aquele lugar, ainda era um jovem menino e ficou com medo. O que aquele homem queria ali? Será que estava atrás dele realmente? Mesmo que não quisesse fazer nenhum mal ao menino, o estilo repulsivo e tímido de Rossinho o impediam de ter algum contato. Agora que tinha perdido de vista o homem, concluiu que ele o faria algum mal.
Ambos se preparavam para um possível embate. O garoto tinha uma pequena vantagem, conhecia seu alvo. Logo o homem, robusto, forte e armado poderia valer-se muito mais de seus predicados. Os dois permaneceram imóveis por alguns segundos. E como um lapso de consciência o homem resolveu identificar a presa antes de atacá-la. Talvez pudesse ser o garoto que procurava. Se fosse, porque o seguira em silêncio ao invés de identificar-se de uma vez? Mesmo assim seria mais prudente perguntar antes de consumar o ataque.
Então ele gritou – Menino! É você? Neto de Dona Isabel? – Em silencio o garoto permaneceu. Mais uma vez homem grita – Responda rapaz, é você? O que faz aqui escondido? – Mesmo assim Rossinho permanece em silêncio. Apenas se levanta, olha para esconderijo do homem. O senhor percebe que realmente o ser que o seguia era o menino. Um semblante assustado e todo sujo, com cipós em volta do corpo, como se fosse uma corda. Numa das mãos um pedaço de madeira, com uma das extremidades pontiagudas, em forma de lança. O homem percebe que fazia alguns dias que menino se encontra ali. E supõe que nem mesmo da morte de sua avó ele tinha conhecimento. Um homem rude, com pouca educação, criado nos mais escondidos confins daquela região tem pouca sensibilidade. Assim sem se preocupar com a reação do menino foi direto ao assunto e disse de maneira rápida e curta que sua avó estava morta.
Para o espanto dele, o menino se manteve calmo, como se aquilo afetasse pouco sua vida. O olhar de indiferença, quase que dando com os ombros, acentuando ainda mais sua reação causaram espanto no homem. Não culpou o menino por isso, apenas o convidou para que o acompanhasse até a casa de sua avó para assim dar um último adeus a ela e rever alguns de seus parentes. Depois disso poderia fazer o que quisesse.
Rossinho retrucou dizendo que não tinha nenhum parente fora daquela mata. E questionou a vinda do homem ao seu encontro. - Porque fizeram isso somente agora? - durante muito tempo ninguém se importara com ele. Mas mesmo assim, ele aceitou o convite e foi junto com o homem que revelou a ele ser irmão se seu pai. Mais uma noticia que não lhe causou nenhuma emoção. Irmão de um pai que ele nunca conheceu, nem mesmo havia visto seu rosto um dia.
Continua...
n.a.: o próximo capítulo é muito importante para a trama, não perca!

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