quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cheiro abafado





Na sala clara, cheia de janelas. Deletar.


Me sinto como se estivesse lá ainda. Não é bem como me sentia quando estava lá efetivamente. O ar ainda tem nuances de quando estava lá. Aquele cheiro abafado, com a fumaça pairando. A porta da varanda ainda aberta, com o barulho infernal entrando o tempo todo. Os telefones e a televisão berrando. Um berro com o cheiro do café preto, forte. Do piche escuro, das duas portas ladeadas dos sanitários, próximo ao arquivo morto.

A calmaria que vejo agora me impede de realmente sentir o que sentia, mas eu continuava pensando como seria ter ficado lá. Como seria se eu tenta-se mais uma vez, como tantas, em vão. Esse é o gosto nostálgico da mudança. Que vai impregnar a boca por alguns dias, e mesmo quando ele não estiver completo, rançoso, mesmo quando ele parar de incomodar, algum resquício ainda restará. Ele vai acompanhar os dias que se desenharão naquela rua escura, por detrás da avenida principal, onde naquela sala totalmente clara, cheia de janelas, o gosto do ar pesado não existirá mais. Melhor assim. Isso sim, isso sim é verdade.

Maldita memória, maldita memória que me faz ter vontade de sentir tudo aquilo de novo. O peso do tempo, que eu não acredito passar tão rápido quanto dizem, acaba vindo de um vez só. Tanta coisa em tão pouco tempo. Já não estou mais lá, talvez eu volte, mas só pra ver como está, como as coisas continuaram a se mover sem que eu precise mais teclar aquelas teclas pretas e ajudar a desenhar diariamente o destino daquela sala densa e barulhenta. Deletar. Até logo, vou tentar viver sem por enquanto, vamos ver como é isso.

4 comentários:

Camila Rehbein disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila Rehbein disse...

Muito bem escrito.
Nossa, deu pra entrar na cabeça do personagem. Tesão.

M. Larsson disse...

eia saudades do Jornale.hahaha

Leo disse...

bom blógue esse aqui.