terça-feira, 8 de abril de 2008

A Guerra da Areia

A epidemia de dengue no Brasil mostra o quanto estamos vulneráveis a este pequeno inseto. Por mais que a sociedade tenha "lutado" nos últimos anos contra esta doença (e mosquito), sempre eminente, ainda assim somos pegos de surpresa. Será?

Apesar das diversas campanhas, propagandas, slogans, gritos de guerra, quilos e quilos de areia colocados nos "potinhos" das plantas nos milhões de lares brasileiros, fomos vencidos temporariamente. Infelizmente os pneus velhos, caixas de água destampadas, vasilhames de diferentes gramaturas, larguras e profundidades, tampinhas de garrafas viradas para cima, estavam por ai cheios de água e carinho, esperando a mamãe "mosquita" depositar seus lindos filhinhos. Maternidades do Mal.

Pobre de nós humanos, brasileiros, latino-americanos. Moramos num país tropical, e sempre enchemos o peito pra dizer que aqui temos um clima muito bom, ótimas praias, camiseta, bermuda e sandálias nos pés sempre. Uma beleza. Tomar cinco banhos por dia e rir da cara dos franceses e seus lavatórios sabatinos. Mas agora, o mosquito nos levou ao inferno das filas de espera do SUS, um calor de matar, crianças chorando, manchas vermelhas, dor e cabeça e um fim que nunca chega. Ou chega, pelo menos para os 68 mortos de dengue no Rio de Janeiro.


Jefferson Hayman


Esta doença nos assusta. Em Curitiba já são dez casos importados, made in Rio de Janeiro (com direito a sotaque gringo e tudo). E lá a coisa está pior. Tem muita gente infectada e "morrendo as dezenas", como relatou o jornal Francês, Le Monde.

A briga no governo, em busca de culpados, continua. Fulano joga o abacaxi no colo de Ciclano, e por sua vez encaminha o relatório para Beltrano, que finalmente admite, mas em parte, e coloca os outros 50% na conta do Fulano de novo, e assim vai. O povo ainda está lá, sentadinho bovinamente nas filas do SUS, sem conforto nem esperança. Mas como diz nosso amado presidente, o problema pode vir a ser a burguesia, por que, segundo ele "ela não usa o SUS, susaseoSUS, a coisa seria diferente". Mas tudo bem. Ou melhor. Tudo mal. Muito mal. Neste caso, assim como em tantos por ai, é bem fácil achar um culpado. Afinal, o governo sempre está errado. Se o hospital está estagnado, a culpa é dele. Se não tem médico, a culpa é dele. Se morreu 68, a culpa é dele. Se estão falando mal do Brasil no exterior, colocando uma placa de "CUIDADO, USE REPELENTE E FECHE AS JANELAS" na frente do nosso quintal, a culpa é dele.

NUNCA (nossa!! que extremista e sensacionalista!!), a sociedade civil olha para si e diz "puxa, que vacilo, esqueci de por areia no potinho da plantinha". E quando o agente de endemias toca a campainha para dar aquela revisada, a desculpa esta prontíssima "to com pressa, passa depois", ou nem atendemos, o que parece mais aliviante. Só parece. A senhora, mãe da menina, la no posto de saúde certamente não daria a mesma resposta. Mas isso, só agora que a doença já é uma realidade na sua vida.

Nada de generalizar. Certamente temos pessoas responsáveis por ai, que sempre policiam seu quintal, seu prédio, ou até mesmo os espaços públicos. Infelizmente isto não tem bastado. Se num quarteirão existem 30 casas, e destas, apenas uma é descuidada, tem mosquito e doença suficiente para todos, ninguém ficam sem, sobra produto para a clientela toda, purinho de um só fornecedor. A coisa é seria assim. Para falar bem a verdade, não é hora de achar culpados e sim reparar os danos, que já são bem grandes.

Nessas horas que agente se arrepende e viver num país tropical, que não parece mais tão abençoado por Deus. O fato é que o mosquito se reproduz bem por aqui. O clima favorece bastante. Tanto que no Rio, um dos fatores do aumento significativo da epidemia se deve as alterações climáticas dos últimos dias. O calor é favorável.

Muitos países da Europa e os Estados Unidos, estão alertando seus cidadãos que querem viajar ao Brasil sobre a epidemia. Os comunicados frisam bem o fato de, em caso de viajem ao Brasil, usar mangas longas, repelentes e sempre manter as janelas fechadas, ou mesmo evitar passar pelo Rio nesta época. Mas deixam bem claro. Se alguém se contaminar, "fique tranqüilo", para a doença se proliferar, precisa-se do mosquito, e lá no norte ele não se reproduz assim tão fácil.

Pois é, sorte deles. Se o mosquito desse as caras por lá, quem estaria mais ferrado ainda seriamos nós. Eles nem tem tantas praias como agente. A areia para preencher os "potinhos" das plantinhas ficaria em falta. E dai, daqui uns cinco ou seis anos, quem sabe, teria-mos o nosso próprio "Iraque" sulamericano, só que ao invés de petróleo, seria areia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que apesar da emoções e a parcialidade, ainda o texto preserva sua qualidade.
Esperamos mais críticas nestas linhas de pensamento.

Anônimo disse...

Realmente a dengue esta acabando com o Rio. Estive lá algumas semanas atrás e posso dizer que em certos lugares está feio mesmo.
Vamos esperar se desta vez as soluções serão mais definitivas.