segunda-feira, 17 de março de 2008

Explicações para o "tudo"

Bertrand Rieger

A primeira maneira pela qual o homem criou a sua própria realidade e através da qual movimentou seu pensamento sobre o mundo foi através do pensamento mítico. O mito trouxe a tona, pela primeira vez, a consciência humana. Através dele, o homem separou-se do natural e criou o humano.
Apesar de as narrativas míticas terem uma construção plástica fantástica, por vezes surreal, ela tem relações profundas com o mundo humano. Vale-se de elementos reais, para construir uma primeira narrativa que exemplifique os processos da existência. Assim, não é uma mentira ou mesmo simples invenção.
O mito constitui a gênese da consciência humana, assim sendo, deu forma ao início da aproximação ou mesmo de uma primeira interpretação do real.
O primeiro olhar humano lançado com consciência, sobre a natureza era um olhar “puro”, sem a “muleta” da técnica ou mesmo da ciência como a conhecemos hoje. Assim sendo, teve que se valer do pouco que conhecia para estruturar explicações para as coisas fantásticas que via no mundo, coisas que o surpreendia e que ele podia, agora com o auxílio do tempo humano, ou seja, a memória, montar esquemas de compreensão associando o que viu ontem e antes de ontem e somando com o que via no hoje. Assim, estas primeiras explicações ou até mesmo algumas mais recentes, no sentido linear histórico, tiveram como estruturação um mito, ou seja, uma primeira verdade, ou hipótese ou até mesmo alegoria. Assim, o mito teve várias funções importantes na construção do conhecimento, seja suscitando duvidas ou exemplificando verdades parciais ou completas.
Ao contrário do que muitos pensam, que mitos foram perdidos e derrubados juntamente com as colunas dos templos perdidos da Grécia, alguns mitos estão muito vivos em nossos dias. Claro que não as histórias de Zeus, Hercules, Perseu, Era, Atena, Hermes e companhia, estas estão vivas apenas nos desenhos da Disney. Contudo, a comunidade humana nunca abriu mão de um bom mito para explicar algo. Tais como o mito de que apenas no capitalismo existe a liberdade plena, o de que o Papa e tantos sacerdotes e celebridades são praticamente semideuses assim como nosso amigo “fortão” Hercules, o mito de que a evolução da sociedade só poderia ter rumado para o estado presente das coisas, assim como tantos outros, que funcionam para muitas comunidades, comuns ou distintas entre si. Mesmo sendo motivo de preocupação e de reflexão de poucos e sendo imperceptível a maioria dos humanos, os mitos existem e certamente estão presentes em nossa sociedade contemporânea. Os humanos nunca o largarão, afinal o homem sempre irá procurar uma explicação para tudo, mesmo não conhecendo esse “tudo”.
Este texto foi produzido para as aulas
de filosofia do Curso de Jornalismo.
Tem por autores: Jadson Tinelli (eu),
Rodrigo Pinto e João Zampier.
Um breve lapso de pensamento,
algo despretencioso e solto num deserto
de outros pensamentos, sempre em
movimento.
Dedicado a Sebastião Tinelli
(in memorian); faria ontem 50 anos de idade.

Um comentário:

James Fr. disse...

O tempo às vezes cria mitos para nós, mas às vezes tentamos usar o tempo para apagar nossos mitos, sem al menos perceber que nossos mitos andam lado a lado conosco, às vezes bons às vezes maus, mais quem saberá dizer...
SBT.T. mito ou realidade; presente saudades de você.