domingo, 10 de fevereiro de 2008

A Solidão de Um Menino - Última Parte

O fim e o recomeço.


David Gray © march2007

Terminado o que fazia dentro da casa, faltando apenas trancar a porta da frente, Jango pede a Marcelino que chame seu primo recém conhecido, que dormia perto da entrada do bosque, debaixo de um pinheiro, para que viesse até a casa, porque ele e Rossinho deveriam conversar. Assim Marcelino corre até onde menino de encontrava, e mantendo uma pequena distância o chama. Rossinho acorda calmamente. O sono havia lhe feito muito bem. Ao acordar ele vê novamente aquele garoto. Neste momento um “flashback” ocorre em sua mente, vê aquela cena como se estivesse diante de seus olhos. Ele entrando na casa de sua avó para o último adeus e a figura muito forte daquele menino encostado na parede frontal da casa, com seu peão, objeto de entretenimento e alegria, mas que era usado para formar um desenho de cruz no chão de terra solta. A tristeza impressa nos olhos do menino nunca lhe saíra da cabeça. Porque todas as outras crianças brincavam alegres, nem se dando conta do que acontecia realmente e ele estava ali muito triste, a desenhar um objeto, que nem mesmo Rossinho, que era mais velho entendia seu real significado? Isso o intrigou, por isso aquela cena que lhe roubara a atenção tão significativamente lhe vinha à tona tão concreta e palpável ao rever o menino, protagonista da mesma.
Marcelino explica rapidamente que seu pai queria falar-lhe e o esperava na sala da casa, onde Dona Isabel fora velada. Rossinho, desconfiado reluta, mas vendo o motivo de sua relutância, Marcelino o tranqüiliza – Todos já foram embora, somos agora apenas eu, você e meu pai – assim Rossinho aceita o chamado e corre rapidamente até a casa, Marcelino o segue.
Chegando a frente da casa, Rossinho entra, Marcelino não, apenas permanece a porta, e fica brincando com seu peão. Jango está sentado na poltrona ao fundo da sala. Rossinho entra, olhando sempre para o chão, seu tom altivo é sempre desarmado em respeito a seu tio, respeito este adquirido pelo amor, e não pela força. Achegasse próximo dele, senta-se no chão, e fica pronto a ouvi-lo. Jango lhe explica rapidamente e com poucas palavras o que acontecera, e o que ainda estava por vir. Rossinho permanece cabisbaixo, e balança a cabeça em sinal de desacordo a cada palavra dita por Jango. Ao terminar seu discurso, Jango pergunta ao menino se é isto que ele quer e se esta satisfeito com o que ocorrerá dali adiante. Primeiramente Rossinho não aceita, diz que nada daquilo era seu e que daquela família tinha apenas o nome. Mas Jango, com o amor que em pouco tempo havia desenvolvido pelo menino, diz a ele as seguintes palavras – Esqueça o passado, sua família agora somos nós, eu sou seu novo pai, comigo você não será mais abandonado, tem agora quem se preocupe com você – uma lágrima corre o rosto do menino, e atrás dela outra e mais outra, até que seu choro se torna incontrolável, nunca antes ouvira algo parecido de alguém, finalmente se sentia amado de verdade. Estas palavras desarmaram o espírito tempestuoso daquele pequeno menino.
Os dois se levantam, andam até porta. Jango tranca a casa. De Rossinho ali dentro não restava nada. O que tinha estava em seu corpo. Quase nada. Os três sobem na carroça. Vão embora, o passado solitário de Rossinho é deixado para trás a cada giro das rodas da carroça. Toda aquela predisposição a violência e a marginalidade agora se tornam em energia para suas brincadeiras com seu primo. Marcelino que antes era uma criança introspectiva e muito calada se contagia com a energia nova de seu primo. Os dois, em poucos minutos se tornam amigos eternos. Rossinho estava salvo. Salvo de si mesmo, salvo do abandono, que tanto lhe fizera mal. Agora tinha uma família de verdade. Seus pecados foram perdoados, seu tempo de escuridão passara.Muitas coisas, boas e ruins ainda viriam a acontecer em sua vida, porém, sempre tinha a segurança de que alguém o esperava. Quando tio Jango morreu já era um adulto casado, com suas filhas e filhos, mas dele nunca esqueceu, e até hoje depois de tantos anos ainda o relembra saudosamente. Nunca mais andou sozinho. Por mais que estes momentos solitários viessem, e eles vieram muitas vezes, Rossinho sabia que tinha pessoas que o amavam e por elas vivera sua vida, nunca mais se sentiu só. Porém dentro de si sempre lembrava que um dia fora um menino solitário. [fim]
N.A.: Agradeço a todos que leram e acompanharam a trajetória de "A Solidão de Um Menino". Espero ter agradado e entretido vocês. O blog seguirá suas publicações normais, e logo teremos mais um conto por ai. Obrigado e até mais.

2 comentários:

May disse...

Jaaadson!
cara, ficou muito bom! : )
tava ansiosa pra ler o final.
aoskasoaskaosa
mas, ficou muito bom mesmo! :D

beijos ;*

Gabriel Bozza disse...

Cara realmente ficou bem legal, faltava eu ler as duas últimas parte, mas como te disse no msn, ontem, esse é um dom seu, conseguiu criar um suspense, e fatos bem emblemáticos que em alguns momentos causam apreensão e a nostalgia corre solta em seu texto, o tom de diálogos é algo legal. Se fosse elogiar ficaria horas aqui, estamos no aguardo de outro conto!

Abraços,