quinta-feira, 22 de abril de 2010

Falsa tremedeira

Centro de Curitiba, Lineu Filho

* * * * *

Baseado no depoimento do velho Raimundo Oachunam

Sonho ou pesadelo de barriga cheia.

Muitas coisas falam sobre a abstinência. Na verdade, muitas coisas falam sobre muitas coisas. Eu sempre achei tudo meio mentira. Não mentira completa, mas sempre duvido do que diziam sobre as coisas. E com a abstinência não está sendo diferente. Uns falam de tremedeiras noturnas (ou seriam diurnas, ou somente nas tardes de calor?) sempre acompanhadas de sessões de suor as bicas.

A dor de cabeça é a mais famosas das sensações do cara que se submete (ou é submetido a força) a abstinência. Eu só me sinto mais chato. No começo, isto é, nos primeiros dias achei que seria um cara mais irritável, mais estourado, involuntariamente. E realmente fui, mas bem menos do que achava e por menos do que havia previsto. Acho que é porque acredito facilmente no que dizem, ou não, ou porque não acredito mas seja diariamente assombrado por minhas máscaras.

No começo tentei nega-las e até senti vergonha delas algumas vezes. Mas hoje de manhã (talvez tenha sido há alguns anos atrás) eu tenha descoberto que não adianta fugir. Então assumi, morrendo de medo, mas aceitei e mais que isso, eu as assinalei com uma caneta marca-texto amarela. O que importa é que eu não tremo. Até tive uma ou duas dores de cabeça, mas sempre foi meio normal, ou não talvez, bem de qualquer forma não me lembro. Só sei que está sendo bem menos do que eu esperava (ou do que me disseram para esperar).

A única coisas que eu não tenho percebido são os níveis de tédio, eles tem aumentado em detrimento de algumas vontades que se reacenderam e ganharam mais fôlego inexplicavelmente. Mas isso ninguém vê. Eu fecho a porta e acendo a luz, deito na cama e ninguém vê. Ultimamente estão mais preocupados com a vida alheia. Vida esta que não é a minha. Então eu pingo o colírio para lubrificar e mostrar meus faróis. Deixá-los mais a mostra e mais significativos, mas parece que não adianta. Eu só tenho visto mais e melhor, nada mais.

Eu firmo a mão e não tremo. Molho a nuca para não tremer e não tremo. A paranóia me diz que não vou conseguir. Eu, mais uma vez, choro de rir da cara dela. O seu odor fétido me deixa mais medroso. E quem disse que isso é ruim? Eu só sinto falta e o resto, bem, o resto é só sonho ou pesadelo de barriga cheia.

Um comentário:

Anônimo disse...

lembro deste.
rs o que me estranha é que eu ainda acho graça.
beijo.

krol