sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Insônia Crônica - Parte I

Uma confissão difícil.

Charles Gullung


Acordar sempre é difícil, olhar que um dia claro ou nublado já está lá fora e nem te esperou, ainda é realmente traumático. Deve ser por isso que muitas pessoas sofrem tanto, suas vidas são cheias de rupturas as quais nem sempre se está preparado. Ai você sofre. Mas logo passa, nos últimos tempos mais do que nunca as coisas tendem a ser efêmeras. Enjoam fácil, repete-se demais. No fim você não agüenta nem o cheiro quanto mais o gosto.

Por isso acho que nada melhor que um sono tranqüilo e um despertar traumático, cheio de insegurança e doloroso, prefiro uma constante seção acordado ou em coma. Acordado durante o dia e enquanto ainda consigo fazer certas atividades, seja trabalhando, estudando ou simplesmente saindo com os amigos. Em coma, por que o sono, quando assume um tom leve e semi acordado, não é um sono, é um estado de meio termo, entre o desligado e o ligado, entre o ‘on’ e o ‘off’.

Já ouvi quem diagnosticasse como uma insônia crônica, e quem afirma-se ser um distúrbio grave de comportamento, tantos outros que questionaram ser uma praga de família, bem todos eles tentaram, palpitaram, jogaram as cartas, mas ninguém levou as fichas.

Não posso dizer e classificar esta situação como um transe, acho que não se encaixa. Mas também não afirmo que seja um estado de plenitude de realidade, realmente algumas coisas são bem surreais, ou mesmo absurdas. A primeira mutação visível é a dificuldade de enxergar com clareza. Você percebe as coisas, os espaços, até mesmo letras em uma leitura dinâmica. O que acontece é que uma série de imagens, vultos, e objetos não bem focados dificultam uma visão mais objetiva.

A audição permanece aguda, mas nada que impeça a captação de duas, três, quatro ou até mais fontes diferentes com clareza e simultaneamente. Ou seja, cada canal é armazenado e pode ser acessado segundo minha vontade tempos depois para complementar uma idéia ou situação já pré-formulada vinda de outro canal. É um processo natural, nunca forçado.

Sendo estes dois elemento primordiais para a minha percepção do mundo externo modificados e postos em um ‘limbo’ entre o real e o virtual, acredito que neste momento me situo na porta que divide estes dois espaços. Sendo assim, nunca durmo. Reponho minhas energias através deste tempo potencializado, que tem como critério basilar o que pode ser, nunca o que simplesmente é. Não é uma questão de existir ou não, a questão é quando vai existir. Potenciais.

Por isso passo a vida de uma maneira diferente das outras pessoas. Enquanto a maioria delas descreveria um dia de no máximo 18 horas, um cotidiano intervalado por um período de recuperação, que se torna inútil com a transcendência. Nela, a meditação, a reflexão, entre os pólos existentes nos torna eternos peregrinos em busca de uma resposta, que nem sempre é fácil de aceitar.


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continua no próximo post...

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