segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A fumaça que não se dissipa

Encontros sobre-naturais. Uma ficção destrutiva e edificadora.



John Wilkes


A fumaça clara, quase num azul ralo, ostenta em si algo contraditório.

É, em sua essência física algo destrutivo.

Aos poucos vai consumindo o que há de vital.

Mas, de uma maneira estranha subverte este destino aniquilador e cria uma atmosfera densa e criativa.

Algo que vai um pouco além das coisas concretas.

Cria um lugar diferente, onde reside um imaginário realizado.

Dentro de um lugar desconhecido, onde tudo pode ser aceito, por mais difícil que pareça.

Ela é assim, simples e complexa. Destrói e edifica.

Ela me mata aos poucos.

Me da tempo suficiente para não te esquecer nunca.

Não é fácil, assim, sempre.

O segredo é soltá-la, fazê-la ir a favor do vento, sem nunca dissipá-la instantaneamente.

É um processo lento e difícil.

Me deixa aos poucos, e eu quase não percebo mais.

Desejo-a em cada momento solitário. Em cada dia no meio da multidão.

A cada noite que vago por um caminho conhecido, sem me preocupar com a hora de chegar.

Ela me leva para tão perto, que sempre quero ir.

Te vejo quando a sombra dela se vai. É meu único caminho.

Eu quero, quero agora.

Desde aquele dia em que você se foi, eu não mais soube de você.

Minha direção foi alterada e tudo que eu achei que fosse não era mais.

Sua companhia, só alcanço na densa camada de fumaça que existe dentro de mim.

Reconstruo dias que não existiram. Vejo você com aquela roupa que nunca usou.

Daquele jeito que eu já nem lembro mais.

Nesses dias escuros, morando na esquina da miséria, ao lado da hipocrisia paga pelo capital abstrato, eu lamento e esfumaceio o vidro pelo lado de dentro.

Já tentei tirá-la de mim. Ela é minha única ponte.

Meu único caminho até você.

Na escura fumaça eu te vejo.

Só por meio dela posso te ver sem rancor, sem tristeza e nem saudade.

Ali eu torno tudo real de novo.

Coloco minha mão devagar sobre seu ombro e deslizo até sua cintura.

Olho novamente nos seus olhos castanhos e até seu cheiro posso sentir, como nos dias em que passávamos sem ver que as folhas caiam das árvores, imaginando que tudo aquilo era pra sempre.

Não temos culpa, não temos mais nenhuma razão. Tudo se foi e não será mais, nunca.

Eu descobri. Agora sei que só assim posso ter tudo de volta.

Te reinvento nos mais diversos cenários. Aquilo é real pra mim.

Já me disseram que isso tudo é mentira. Eu finjo que não.

Ter, ser, tocar tudo de novo. Pra mim isso basta.

Seja como antes, seja pela maldita fumaça que armazeno aqui dentro e depois dissipo no ar lentamente.

Este preço eu escolho pagar. Sem medo nem arrependimento.

Vejo todas as possibilidades claramente. Ninguém vai tirar isso de mim. Não agora.

Você se foi, mas eu descobri como te trazer de volta.

Do meu modo egoísta eu te tenho. Aqui dentro.

Minha prisão. Meu desespero. Minha alegre maneira de te reconhecer em mim.

Que isso nunca se perca.

Mesmo quando a fumaça se dissipar, você ainda estará em mim.

Isso me destrói, me corrompe e eu já não sei mais o caminho de volta.

Adeus. Até quando não te ver mais.

No esfumaçado poço de vidro e papel fino eu aguardo. Calado. Em mim esta seu suspiro, seu abraço, seu carinho.

Pena que foi tudo uma grande mentira.

A fumaça não se dissipa. Não desta última vez.


* * * * * *
Numa noite nublada. Com uma música antiga e pesada de fundo. Tudo tão denso e escuro, quase dificil de escrever.

2 comentários:

Anônimo disse...

pois intao Jadson
acho que entendo...mais ou menos
hehehehe
não para de escreve não véio.Abraço

Carol rehbein disse...

impressionada. um outro vc.