quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Uma Conversa na Conferência

United Nations Climate Change Conference
Nusa Dua – Bali - Indonésia, 3-14 December 2007


Enquanto os delegados da conferência e os representantes dos países discutiam as mudanças e ações de cabidas a cada país com relação às emissões de gazes poluentes, desmatamento, reduções econômicas, dois indonésios ali no cantinho sentados frente ao painel que anuncia o encontro internacional sobre o clima conversavam sobre o que vêem e escutam.
Camisetinhas amarelas de staff, crachás, um coça des-preocupadamente a barba enquanto seu companheiro fuma um cigarro.

Barbudo: É cara, pelo jeito eles não vão chegar a um acordo tão cedo eim!
Fumante: Ué porque meu? Os cientistas trouxeram as propostas, e boas propostas, agora é a galera entra num acordo de quem vai poluir menos, quem vai reduzir aqui, quem vai reduzir ali, quem vai poder desmatar mais um pouco aqui e ali, energia solar, biocombustíveis e etc, vai ser fácil, que nem Kyoto.
Barbudo: A cara não sei não, todo esse povo falando línguas diferentes, com pensamentos diferentes, sei lá isso ta me cheirando a confusão, as coisas não são tão fáceis assim, você viu o que aconteceu com o Al Gore? Pô o cara tinha tudo nas mãos. Foi duramente reprimido por vários governantes, que mostraram simpatia apenas por populismo, mas por trás meteram a boca. Ele tinha resultados de pesquisas, opinião de cientistas da área o que dava muita credibilidade aos dados, explicou claramente naquele documentário, como é nome daquele documentário mesmo, é, é.... “Verdade Inconseqüente”?
Fumante: Não, não, cara que inconseqüente o quê, IN-CON-VE-NI-EN-TE, “Verdade Inconveniente”, é também o cara meio que força a barra não foi, poxa, deu um tapa na cara dos americanos e dos australianos, os únicos que não assinaram o protocolo de Kyoto e tão ai poluindo geral, sem dar satisfações de p#%¨&rra nenhuma!
Barbudo: Nada a vê, nada a vê, a Austrália lá, os “caguruzinho” lá, já assinaram um documento dizendo que vão diminuir as emissões e tão do lado de cá já. O “Tio Sam” ta sozinho agora. E ainda mais pra ferra com eles, os Emirados Árabes Unidos, o Kuwait e o Catar, os árabes lá sabe, vão doar uma grana preta pra ajudar as regiões do planeta e as comunidades atingidas pelo aquecimento global. Mais ou menos 450 milhões de dólares. Os americanos não vivem dizendo que árabe é tudo terrorista? É neném quem é o terrorista agora, fala, fala, fala na cara americaninho... hahahahaha!
Fumante: É, mas as coisas tão ficando cada vez mais difíceis pro lado deles. A Califórnia, os estado mais rico dos EUA, os caras (governo da Califórnia) assinaram um documento dizendo que em 20 anos vão reduzir 25% das emissões do estado, pode ser um abalo para a economia, mas eles tão ai levantando a bandeira do meio ambiente.
Barbudo: 25%? Grande coisa, os cientistas da ONU dizem que o mundo deveria parar hoje de emitir 60% dos gazes, SE-SSEN-TA POR CEN-TO, sabe o que é isso, e não é pro ano que vem, pra daqui dez anos meu amigo, é pra ontem, se não daqui a 50 anos o planeta estará irreconhecível! É parece que o negócio ta mesmo muito sério.
Fumante: Sim, mas quem deve pagar mais caro por isso são os países ricos meu, isso é uma verdade, sério, os caras enriquecem por séculos, poluindo, desmatando tocado a maior zorra com o meio ambiente pra estarem ai numa boa ricos e desenvolvidos e agora querem que nós, países em desenvolvimento paguemos a conta, arriscando o nosso crescimento para salvar a pele ariana deles, Ah, tão de sacanagem não tão?
Barbudo: É meu amigo, mas agente não pode ficar com esse discursozinho “Poluir para crescer, e os ricos que se f*%$dam”, não senhor, de que adianta agente fazer passeata pelo meio ambiente, dizer que ama as plantas e os animais, shows por um planeta mais igualitário e justo. Entende o que eu digo I-GUA-LI-TÁ-RIO, ou seja o que está no passado já era, temos que ser iguais agora. Chega de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. A responsabilidade é nossa também, que adianta crescer economicamente, crescer pra que, pra depois não ter mais planeta pra viver? Onde agente vai morar se este mundo ruir em meio aos gazes que provocam o aquecimento global?
Fumante: Nossa que bonito eim...
Barbudo: Bonito o que? Eu sou bonito? Ê cara não sou desse time não... tá de sacanagem?
Fumante: Não idiota, bonito o que você falou, “RUIR”, que difícil que tá seu vocabulário... só porque é staff de um encontro global ta ai se achando!
Barbudo: Se liga velho, to aqui falando sério sobre coisa relevantes, tentando se envolver com estas discussão e você fica ai, de conversinha, “hum ruir, que bonito” puta merda viu!
Fumante: Desculpa, desculpa!
Barbudo: Não tudo bem, só fiquei um pouco de cara, to muito preocupado com toda esta situação. Até agora tudo que se resolveu e na base do “investimento financeiro”.
Fumante: Como assim?
Barbudo: Não, pô, todo assunto que é colocado em pauta, é analisado primeiro a viabilidade econômica, depois a ecológica.
Fumante: Pois é, como esse povinho poderoso do mundo só pensa em grana né! Nossa, é uma absurdo mesmo!
Barbudo: Bem dessa mesmo. Que adianta ter dinheiro e bens para depois ficar torrado com o calor, não ter água potável, e o pior sem florestas piora a qualidade do ar, ai eu quero só ver! O mundo ta indo cada vez mais mal das pernas!
Fumante: Pois é! Não só das pernas, do corpo inteiro!
Barbudo: Olha, olha, escuta só o que eles tão dizendo!
Fumante: É em inglês, traduz ai pra mim!
Barbudo: É alguma coisa como, como, como....
Fumante: “Como” o que? Fala logo!
Barbudo: Algo sobre milhões, acho que é 60 milhões...
Fumante: 60 milhões de que?
Barbudo: Ah sim, sabia que este 60 milhões não eram sobre reduções de emissões ou no desmatamento... tava bom demais para ser verdade!
Fumante: Ué mas sobre o que é então? Fala, to curioso!
Barbudo: É a quantidade que o mercado de carbono movimenta hoje no mundo...
Fumante: Mercado de carbono, que é isso?
Barbudo: É algo como, bem, deixa-me ver. Uma empresa que polui muito, que emite muito gás de carbono na atmosfera paga para um proprietário de terras, geralmente de terra nos países em desenvolvimento para ele conservar, ou se não plantar apenas árvores que reduzam os níveis de carbono do ar. Assim ele compensa a poluição com conservação. Não planta, não conserva, apenas continua poluindo e pagando pros outros preservarem o meio no lugar dele.
Fumante: Mas que adianta? O cara continua poluindo igual.
Barbudo: É, mas assim pelo menos ele cala a boca de quem quiser criticá-lo, e pagando bem né, os paisinhos cá em baixo não reclamam afinal recebem em dólares!
Fumante: É mas logo, logo os dólares não serão tão verdes mais! Ai eu quero só ver!
Barbudo: Isso se agente tiver por aqui ainda, você viu o cara lá dizendo que com o aquecimento global Bali vai ser submersa totalmente? A Indonésia já era meu filho, em pouco tempo!
Nesse momento o amigo que fumava tranqüilamente, corre em enfia dentro de um copo de água o que restava do cigarro. O outro espantado pergunta:
Barbudo: O que foi, sua mãe te viu fumando?
Ex-fumante: Não, parei de fumar agora!
Barbudo: Ué, porque?
Ex-fumante: Preciso parar de emitir gazes e contribuir pro aquecimento global se não fico sem casa!
Barbudo: Hahahahaha... Isso ai, gostei de ver, pequenas atitudes que podem mudar o mundo, hahahahahaha!!!!




N.A.: Na revista ÉPOCA, edição de 10 de dezembro, nas páginas 136, 137 e 138 foi publicada uma matéria sobre a conferência da ONU sobre a situação do clima do planeta, que acontece este mês em Bali na Indonésia. Na matéria são apresentadas as decisões e conclusões feitas até agora. O objetivo principal da conferencia é dar o paço inicial para um novo documento que venha a substituir o Protocolo de Kyoto, que espira em 2012. No entanto, a maioria das propostas que são colocadas em pauta tem o viés financeiro em primeiro plano. Enquanto os cientistas da ONU dizem que precisamos diminuir em 60% a emissões de gás de carbono MUNDIAL para ontem, os debates dos governantes e representantes de quase todos os países se atem a reduções econômicas e incentivos financeiros. O máximo que se conseguiu até agora foi à decisão do Reino Unido de reduzir em 60% suas emissões de gazes, porém num prazo de mais de 40 anos. Até lá e disfunção entre o valor do dinheiro e o da água e dos tratamentos de câncer de pele serão bem grandes, isso sem contar as inundações e os espaços de terra que darão lugar ao oceano.

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