sábado, 17 de julho de 2010

Explosões travestidas



Centenas de caminhões que andam entre 80 e 100 km/h.

As pessoas precisam de uma roupa nova. Elas devem conhecer o conforto de cada umas das texturas dos mais diversos tecidos. As cores são importantes é claro. Os desenhos, a composição deles é imprescindível, eles devem estar afinados, cantando harmoniosamente a ponto de serem simples. Não deixando de lado nunca o fato de ter de ser surpreendente. O desenho a mão livre. A liberdade de andar, caminhar vagarosamente pelo crepúsculo noturno, a chuva fina, o vento gelado e forte que chacoalha os galhos de alguns eucaliptos. Andar lá fora e sentir-se confortável dentro de uma moletom, uma calça, cueca azul claro e um macio solado de borracha. Olhando sempre os buracos na rua e as manobras em alta velocidade entre milhares, centenas de caminhões que andam entre 80 e 100 km/h.

No começo era mais simples. Não sabendo encaixar as peças direto. Como único companheiros, somente o medo de ter que voltar e perder o tiro sem nem mesmo tentar. Sem poder saber se era a cabeça do adversário ou a sua que sangraria com uma explosão de carne queimada que descola da face oposta do crânio, o buraco por onde sai o projétil. O tiro certeiro. Eu tenho medo e quanto mais perto estiver dessa visão, menos ela me assombrará. O medo de que ela venha e sem pedir, me leve embora. Quero ver o que acontece quanto tudo ainda é recente, quando ainda está quente. Quando as coisas escuras estejam presentes apenas em pequenos flashes. Visões com pouca luz na noite perdida naquele bairro escuro e tão longe. Lá onde o triste fim é escrito a tiros no coração da mãe que grita na encruzilhada a morte violenta de um menino de uns 17 ou 19 anos que naquele dia perdeu. São apenas explosões travestidas.

Um comentário:

Carol rehbein disse...

acho que vc conseguiu de novo. escreveu algo que não fez sentido algum pra mim. talvez de tudo isso eu só conheça o medo.
Ele sempre vai nos acompanhar, quem sabe enquanto ele existir estaremos seguros. ou não. bjo