
1.
os dois se encontraram no lado de cá da ponte. no horário marcado. tudo estava pronto para a viagem. mercadoria camuflada, tanque cheio e apenas duas armas. uma para cada um, o muambeiro podia ficar sem. ambos suspeitavam da dificuldade que ele tinha de se localizar, não poderia ser diferente com uma arma na mão. subiram no ônibus imaginando que podiam morrer ou pior, serem pegos. levaram consigo 30 munições. mal sabiam que iriam precisar de mais. as coisas não seriam como uma brincadeira de correr e atirar para trás. sem saber, alimentaram a opção de que daria certo, de que chegariam, de que o dinheiro receberiam. tudo ilusão, como putas ou restaurantes de fast food na beira da estrada.
* * *
2.
Eu sou pobre
Minha família é pobre
O mundo é pobre e mesquinho
Todos são ladrões
Vivem da escuridão
Com a angústia alheia se alimentam
Eu sou pobre
Decretem a linha de tiro
Projétil com sangue
Eu sou pobre
Atirem!
* * *
3.
Desta vez o deslocamento chegou ao extremo, mas pela primeira delas consegui ver no escuro, mesmo que isso custasse a moral, a credibilidade e todo o resto que achava que tinha. medo em todas as ações. apenas a pequena vontade de sair gritando como um maníaco que precisa urgentemente de uma camisa de força e de sedativos. mesmo assim conseguir não parar de pensar. Alguns gritos realmente aconteceram, mas eram bem mais modestos e contidos que nem fizeram efeito na turba de acusadores que povoam a sua casa e principalmente sua cabeça, suas conexões mentais. estes ladrões de energia. assaltam o que tinha de mais interessante. não admita que não deixem pensar no que quiser, na atrocidade, na cena mais podre que possa criar dentro da sua cabecinha fedorenta. tomado de surpresa cedeu as investidas criminosas destes que só queriam roubar seus pequenos segredinhos cabeludos para usá-los contra depois, num dia em que tivesse desatento. Comeu uma, duas, três vezes, mas o resultado era sempre o mesmo, perseguição mortífera.
* * *
postagem nº 100
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